segunda-feira, janeiro 25, 2010

- - ONDE ESTÁ A SINCERIDADE ? - - "Reflexões", de Dostoievski

- - By Fiodor Dostoievski - -  
em “Cadernos do Subterrâneo”

Entre as recordações que cada um de nós guarda, algumas há que só contamos aos amigos.
Há ainda outras que nem sequer aos amigos confessamos, que só a nós próprios dizemos e, mesmo assim, no máximo segredo.
Finalmente, há coisas que o homem nem sequer se permite confessar a si mesmo.

Ao longo da existência, toda a pessoa honesta acumulou não poucas destas recordações. Diria mesmo que a quantidade é tanto maior quanto mais honesto o homem.

Eu, em todo o caso, não foi há muito que me decidi a recordar algumas das minhas antigas aventuras; até agora evitava fazê-lo, aliás com um certo desassossego. Porém agora, quando as evoco e desejo mesmo anotá-las, agora vou tirar a prova: será possível sermos francos e sinceros, pelo menos com nós próprios, e dizermo-nos toda a verdade?

Observo, a propósito, que Heine afirma não poderem existir autobiografias exactas e que o homem mente sempre quando fala de si próprio. Em sua opinião, Rousseau enganou-nos à certa nas suas Confessions, e até deliberadamente, por vaidade. Tenho a certeza de que Heine tem razão: compreendo muitíssimo bem que nos possamos acusar de crimes abomináveis apenas por vaidade e também compreendo o que pode ser esse sentimento. Mas Heine tinha em vista as confissões públicas; ora, eu escrevo só para mim e declaro duma vez por todas que, se pareço dirigir-me ao leitor, é apenas um processo de que me sirvo para maior facilidade.

Sem a ação do Espírito Santo, assim como Davi mentiu para si mesmo até que Natã o confrontou contando-lhe uma história que parecia ser de outro, nós mentiremos para nós mesmos. E até a loucura das loucuras, mentiremos para Deus. Então que o Espírito faça sua obra em Nós.
-  ( Josemar Bessa) -

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